sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
O santo sufi e a D5000
Então, há quanto tempo! Andei meio sumida, numa espécie de sabático auto-proclamado da área, mas enfim volto ao meu cantinho habitual. Como sabe quem lê o Segundo Caderno e/ou acompanha meu blog, a principal razão deste sumiço foi uma viagem à Índia que devia ter durado três semanas, depois se estendeu a um mês e, no fim, levou quase 60 dias.
Embora o país tenha justa e merecida fama no mundo da tecnologia, o que me cativou foi o seu lado low-tech; ou, para ser mais justa, a facilidade com que diversos séculos convivem num mesmo espaço. Nos vilarejos mais remotos que visitei, todos usavam celular, e muitos rapazes identificaram à primeira vista o Nokia N97, que conheciam apenas de foto.
A lenda é fato: os indianos adoram máquinas.
Antes de viajar, comprei uma Nikon D5000, então mais ou menos recém-lançada, que me fez viver boas experiências, às vezes em situações inesperadas. A poucos quilômetros de Agra fica a cidade-fantasma de Fatehpur Sikri, construída pelo imperador Akbar no Século XVI e abandonada por razões não inteiramente esclarecidas. Lá fica o túmulo do santo sufi Salim Chishti, onde se pode entrar e fazer pedidos (amarrando-se fios de linha na “renda” do mármore), mas onde não se pode fotografar.
Pois entrei com a D5000 pendurada no pescoço, como boa turista, e o celular já preparado para roubar uma foto, quando o religioso que cuida do túmulo, um rapaz na casa dos 20 anos, se empolgou:
-- Já li muito sobre essa câmera. Que tal, é tudo o que estão dizendo?
-- Bom, eu estou contente, tem funcionado bem.
-- E como é que trabalha em lugares escuros? Vai mesmo a 6400 ISO?
-- Vai, mas o ruído é inaceitável. O máximo que tenho usado é 1600, com resultados bastante bons.
-- Posso ver?
-- Claro! Repara só...
E com isso, a pedidos do próprio guardião do túmulo, saquei três fotos rápidas. Se eu soubesse que ia encontrar um colega lá dentro, tinha levado o tripé.
A mesma câmera também chamou a atenção de um dos policiais da segurança do aeroporto de Nova Delhi, que pediu para ver o equipamento. Não por medo de bomba, mas por curiosidade, mesmo: sonha com uma lente como a minha 18-200mm. O mais espantoso é que, na fila que se formou enquanto ele olhava cuidadosa e reverentemente a lente, ninguém se estressou.
Aquele é um país de milagres.
(O Globo, Revista Digital, 11.1.2010)
As fotos que fiz estão num álbum do Picasa, AQUI.
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